Cada vez mais
me parece evidente uma certa falta de coerência a esta pequena jovem democracia
a que chamamos Portugal. Digo jovem democracia, mas vale a pena notar que é
apenas a democracia que é jovem, e não o país que durante muito tempo
sobreviveu a inúmeras crises bem mais graves do que as que passámos nos últimos
tempos.
Vivemos em
tempos em que o liberalismo parece imparável, e a única opção para o futuro.
Nas escolas somos ensinados que antes de sermos portugueses somos europeus, e
que é nesta “nacionalidade europeia” que está o nosso futuro. São criados
vastos programas de “integração europeia”, como o Erasmus, financiados pela
Comissão para criar um espirito europeu dentro dos mais jovens. Para lhes
ensinar o quão fechada era a mentalidade dos seus pais, avós e bisavós, que
infelizmente viveram em tempos “retrógrados”, e que devido a esses tempos não
puderam chegar tão longe quanto teriam caso vivessem em tempos tão “meritocratas”
quanto os nossos. Ensinam também que qualquer estilo de vida que seja minimamente
parecido com o dos seus pais e avós é algo do passado, opressivo e inerentemente
mau para as pessoas, que só os seguiam por serem obrigados.
Ensinam todas
estas mentiras aos cidadãos para que sejam “cidadãos do mundo”, mais
concretamente, da Europa. Porquê? Por uma simples razão: O factor que mais
resistência exerce à uniformização da europa é precisamente o estado-nação. O
objectivo de todas estas políticas é precisamente a destruição da identidade
das nações que restam na Europa, começando pelos mais “fracos” e “periféricos”
como Portugal, Espanha, Itália e Grécia. Claro, estes são os suspeitos do
costume, mas não pensem que estão sozinhos. Estes foram apenas os primeiros a
sentir os efeitos de serem governados por pessoas que não conhecem minimamente
a história e a cultura dos seus países.
Sim, não se iludam,
nenhum destes países são independentes ou controlam o seu destino. Lembro que segundo
a teoria do grande jurista e filósofo do Séc. XVI, Jean Bodin, seria necessário
que se notassem 4 condições para uma nação fosse verdadeiramente soberana e
independente:
1. Bater moeda – Isto é, ter e controlar uma moeda
nacional. Isto proporciona ao país poder económico sobre o seu destino, e
capacidade de melhor controlar a sua economia face às economias que o rodeiam e
ao mercado global.
2. Legislar – Criação de leis e capacidade de as
exercer e defender por parte do Estado.
3. Render a Justiça – Ter um corpo de Justiça capaz
de julgar e fazer cumprir a lei. É importante também que a decisão deste corpo
seja definitiva e final, não podendo ser alterada ou posta em causa por nenhum
outro corpo ou organização dentro ou fora do Estado.
4. Declarar a Guerra e a Paz – Autonomia de
escolher as suas alianças e defendê-las da forma que lhe pareça adequado.
É incrivelmente
curioso notar que 70 anos após o fim da Segunda Grande Guerra, a Alemanha é o
país da União Europeia que mais soberano é. Por muito que gostássemos que não
fosse assim, notamos também que Portugal, assim como a maioria dos países
periféricos da União Europeia não reúne um único dos pontos enunciados.
Segue-se então a pergunta mais assustadora: Será que ainda somos um país?
No
meio de tudo isto, o que mais me espanta é que a maior parte do país, como que
embriagado pelas mentiras da União Europeia, ainda julga que o país e os seus
políticos controlam a forma como Portugal é governado. Mais ainda, acreditam
honestamente haver qualquer tipo de diferença entre as principais forças
políticas (PS/PSD/CDS), como se fossem opostos, quando na verdade são apenas
duas faces de uma mesma moeda. Ora cai para um lado ora cai para outro, mas o
valor é sempre o mesmo. A política em Portugal restringe-se a nada mais de um
clubismo de Partidos, em que estes são apenas defendidos por serem “os meus”.
Ninguém,
em sessão alguma da Assembleia do Governo, discute ou faz política. Discutem
economia e gestão. Discutem, não fazem. Muito menos política, e isso já diz
tudo. Não fazem porque não está no seu poder. Enquanto o resto da Europa que
percebe o que se está a passar e está activamente a tentar fazer algo para o
impedir seja de que forma for (como na Grécia, na França ou no Reino Unido), os
Portugueses estão a discutir Esquerda e Direita, como se essa distinção sequer
existisse nos partidos que estão ou pretendem estar no poder. Não existe
direita em Portugal, assim como não existe esquerda. Existem marionetas de
Bruxelas, que aplicam as reformas económicas e políticas que bem entendem em
Portugal como no resto da Europa.
Tratam-se
de pessoas que não conhecem Portugal nem o seu povo e cultura minimamente. E
são eles que fazem Política. São eles que tomam as decisões sobre o futuro da
nossa nação. E claro, tomam essas decisões baseados em números e quadros e fórmulas
que nada têm em consideração as pessoas que serão afectadas por elas. Estas
pessoas não são eleitas por nós, e como tal, nunca serão responsabilizadas por
quaisquer consequências que as suas acções tenham numa pequena nação longe do
coração europeu que, para eles, pouco ou nada importa no plano global.
Portugal
é um país que, se há algo que o definia desde a sua concepção, era o seu desejo
incrivelmente forte de ser independente e de dominar o seu destino. Desde 1143
que existe uma característica única nos Portugueses: uma incrível vontade de se
recusar a curvar. A curvar perante um conquistador, a curvar perante um
invasor, a curvar perante a derrota, e sobretudo a curvar perante a
incapacidade de decidir o seu futuro. Em inúmeras ocasiões preferimos a morte à
subjugação. Mesmo quando não havia absolutamente razão nenhuma para defender
essa mesma independência, o português recusava depender de alguém. Havia uma
certa mística indomável quanto à nossa latinidade.
Quando
é que isso deixou de ser assim? Quando é que a nação e a nossa identidade
cultural deixou de ser mais importante do que o individuo? É difícil encontrar
o momento exacto, mas é mais simples realçar o ideal que tudo começou: o
Liberalismo. Embora não seja pessoalmente grande fã do liberalismo não posso
deixar de louvar as consequências positivas que trouxe à nossa e à grande
maioria das sociedades em que foi implementado. Não seria o primeiro a
louvá-lo, mas no meio de tanto louvor ficamos com uma impressão de que a
comunidade “ocidental” actual e os seus ideais democráticos e liberais são
moralmente superiores a todos os outros. E algo que os mais liberais se recusam
a admitir é que este pressuposto arrogante não passa de nada mais do que uma
forma de censura social, com o fim de justificar os actos dos governos mais
fortes que são apologistas destes mesmos ideais.
Durante
toda a minha educação fui alvo de censuras sociais e académicas por ter opiniões
um pouco “cépticas” ou “retrógradas” face à destruição da independência,
identidade e cultura do meu país. Por insistir que a União Europeia não é a
única opção. Por tentar alertar que o caminho da destruição do sentido de nação
e submissão ao mercado europeu é uma viagem sem volta. E, acima de tudo, por
insistir que o liberalismo e a liberdade que louvamos e adoramos tem um preço.
Preço esse que muitos de nós não estamos dispostos a admitir que existe, quanto
mais a tentar minimizar os seus efeitos. Esse preço é o relativismo.
Numa
sociedade cada vez mais relativa, cada vez mais o correcto e o errado se
misturam, chegando a um ponto em que já não é possível distinguir. E isto
afecta todas as áreas da vida social da comunidade. Quando já não existe algo
que a sociedade como um todo aceita como sendo correcto ou errado, tudo é
aceite. E a única coisa que é discutida é a forma como isso afecta a vida de
cada indivíduo, muitas vezes esquecendo a comunidade completamente. Como se
cada pessoa vivesse isolada dentro da comunidade, e não fosse de todo afectada
por o que quer que lhe aconteça. Cada vez mais as “outras pessoas” nos são
distantes e quase alienígenas, e pensamos muito pouco na razão do nosso país
existir.
Com
a emergência do Estado Islâmico do Levante e das barbaridades que têm vindo por
este a ser cometidas, é com grande choque que as pessoas olham para os jovens
portugueses que de livre vontade saem do seu país de origem (uma democracia
ocidental) e rumam ao Levante para ir dar as suas vidas por ideais antagonistas
aos que lhes foram ensinados desde crianças. “Porquê?”, perguntam-se todos. Por
não conseguir compreender tal razão, acabam por atribuir a culpa à “loucura” ou
ao “extremismo” individual que as pessoas em questão poderiam ter, que é algo
que não se pode prever ou evitar, quando na verdade estas pessoas são apenas um
produto e uma consequência do cada vez maior relativismo que a sociedade em que
vivemos propaga.
A verdade é
que, se estas pessoas fizeram o que fizeram, foi de livre vontade. Por sua
própria vontade, analisaram a vida que tinham aqui e o futuro que os esperava,
e em seguida olharam para as atrocidades a serem cometidas pelos jihadistas e
tomaram uma decisão de que lá estariam
melhor. Percebem o grave que isto é? E não me podem dizer que foi por
“serem enganados”, que o Estado Islâmico era algo bom quando todos os media informam 24 horas sobre 24 das
barbaridades cometidas pelos mesmos, e quais os seus objectivos. Não foram
enganados, eles sabiam para onde iam,
e escolheram ir.
É
obvio que foi uma escolha errada. Mas essa não é a conclusão a que eu quero
chegar. Quero alertar para o facto de que quando dizemos às crianças que, ao se
tornarem adultas, serão livres para
tomar todas as decisões que queiram
na sua vida pessoal, desde que não sejam ilegais obviamente, e que é a
sociedade que tem de se ajeitar às suas escolhas e não o contrário, depois não
podemos criticar que elas, dispostas de todas suas capacidades, tomem decisões
extremas como esta. Este é o preço do liberalismo. Toda a gente pressupõe que
não, mas escolhas e acções dos indivíduos na sua vida privada têm efeitos na
comunidade como um todo. E é por isto que esta liberdade (a que não afecta só o
individuo) tem de ser controlada e isto tem de ser ensinado às nossas crianças.
Que, por muitos direitos que tenham enquanto seres humanos, têm em primeiro
lugar responsabilidades perante a sociedade que os criou e desenvolveu. Perante
a sua família, a sua nação e a sua cultura. Ninguém anda no mundo sozinho. Essa
prática de desenraizar as pessoas das suas nações pela UE tem de ser posta em
causa.
Pessoalmente,
cresci num tempo em que qualquer expressão de opinião fora do que é
“socialmente aceite e democrático” é imediatamente atacada como sendo de um
outro tempo e “antiliberal”. Tive professores que se recusavam a emitir os seus
próprios pareceres com medo de serem mal interpretados ou rotulados como sendo
“fascistas” ou “extremistas” quando estavam apenas a constatar factos. Ter uma
cruz de cristo numa sala de aula de um país em que a história do cristianismo
está intrinsecamente ligada à sua própria e à sua cultura é hoje em dia tabu,
com medo de se influenciar o processo de decisão das crianças na sua descoberta
da sua própria identidade. Até a constatação de factos hoje em dia é perigosa.
Chamar-se as coisas pelos nomes caiu em desuso. Tem de se ter um cuidado
extremo ao tecer opiniões em público e tenta-se ser sempre o mais “democrático”
possível, de forma a não ofender ninguém com o que se diz. A democracia tem
muito de louvável, mas torna-se nefasta e degradante quando nos impede de ver a
realidade pelo que ela é, porque também nos impede de lidar de forma honesta e
verdadeira com os problemas que enfrentamos.
Ao
inibirmo-nos de passar as crenças e as tradições dos nossos antepassados aos
nossos filhos, quanto tempo de sobra terá Portugal até ser apenas um sítio? Por
culpa de um extremo complexo de não ofender ninguém, acabamos por comprometer a
nossa própria identidade, que desta forma não sobreviverá por muito mais tempo.
E o pior é que este tipo de destruição interna é silencioso, e quando o país
nem sequer o reconhece torna-se verdadeiramente imparável. Se nada for feito,
creio que o país que os meus netos conhecerão será ainda mais diferente do
nosso do que o dos nossos avós era para nós. E não, não será melhor.
Hoje
em dia, um jovem que termine a sua educação com vontade de dar ao país um
retorno das suas capacidades e juventude tem duas opções:
- Juntar-se
às forças políticas actuais e ajudar na destruição da sua identidade nacional
em prol da União Europeia e em proveito próprio. E sim, esta é a única opção
política em Portugal, sendo que nem sequer se discutem alternativas a este
caminho, uma vez que não somos um país soberano.
- Ou,
caso recuse o ponto 1, tratar da sua vida pessoal e profissional esquecendo,
ignorando e pondo-se à parte do seu país/nação, tornando-se um cidadão
cumpridor e respeitador da lei sem interferir para bem ou mal no decorrer dos
assuntos do seu país.
Existe também
um terceiro ponto, que não considero pessoalmente ser opção pois os meus valores
morais não concebem sequer a possibilidade, no entanto alguns jovens da minha
idade poderiam discordar. Esse terceiro ponto é a oposição revolucionária e
armada ao status quo político actual. Para mim, esta forma de lidar com o
problema, assim como todos do género, estão condenadas ao falhanço, podendo
apenas criar situações ainda piores à actual.
Sendo
que em Portugal cerca de 40% da população entre os 18 e os 25 anos se encontra
desempregada, poderão perceber que a situação é verdadeiramente grave. Sendo
que esta geração é a mais bem instruída que o país alguma vez criou, pelo menos
academicamente. Vemos então que o país está a usufruir de apenas 60% da sua
juventude, ou seja, da sua população com mais capacidade activa actual, e que
futuramente irá gerir o país e educar as próximas gerações.
A
única forma de evitar isto, seria tornarmos Portugal numa nação soberana, capaz
de tomar as suas próprias decisões. E, o primeiro passo para tal, passa por dizermos
não à União Europeia e às suas práticas que ponham em causa a nossa capacidade
de governarmos o nosso território. Claro que já estamos enterrados até ao
pescoço e a nossa soberania há muito se encontra perdida, no entanto, penso que
é possível reverter o ciclo, caso uma alternativa política honesta com o país
viesse a surgir. Políticos cuja característica distinta não seria ser amigo de
A ou B, ou ser da Direita ou Esquerda, mas sim serem pessoas honestas, não corruptas,
e que colocassem os interesses do país sempre acima dos seus próprios. E, com a
fadiga que as forças políticas eleitorais causam cada vez mais nos eleitores, é
bem possível que ela surja.
Caso contrário,
por muito que me custe, creio que estas políticas de destruição vão continuar
até Portugal não se tornar nada mais do que uma colónia de outras culturas. Não
uma colónia conquistada e mantida pelo poder das armas, mas uma ainda pior. Uma
ruína de McDonald’s e Mesquitas. Uma colónia voluntária que preferiu sacrificar
a sua cultura, e a dos seus ilustres antepassados, a defender os seus ideais e
tradições de paz, defesa da sua pátria e fé, humildade e solidariedade, que por
tanto tempo a mantiveram. Desta forma poderá Portugal passar exclusivamente à
história, assim como a sua gente que, na minha opinião, nunca se intimidou de
mostrar ao mundo aquilo que defendia e representava, fossem quais fossem as
consequências. Até recentemente.