terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A Bola de Ouro e a Democracia

Antes de mais, quero felicitar Cristiano Ronaldo pelo prémio, sem dúvida merecido, que recebeu ontem na gala da FIFA. É um grande orgulho para o próprio, para a sua familía e, também, para Portugal. Passámos à frente de outros nomes prováveis e provenientes de países bem maiores do que o nosso. Mas esta vitória deve ser para nós uma lição: o sucesso não nasce apenas do "jeito natural" que temos para fazer alguma coisa. É preciso prática, muito esforço, disciplina e trabalho árduo. E é por isso que digo que Ronaldo mereceu a Bola de Ouro. Tem trabalhado com toda a sua determinação tendo como finalidade este objectivo muito simples: ser o melhor de todos, ser o melhor do mundo. É esta aspiração que todos devemos ter nas nossas respectivas áreas. A perfeição é interdita à condição humana, mas podemos aproximar-nos dela um pouco mais a cada dia. Nunca lá chegamos porque a verdade é que nem todos os dias fazemos por isso ou nem todos os dias conseguimos dar um passo em frente, apesar de todo o esforço que possamos fazer. Por vezes, até recuamos...mas é nessas alturas que mais somos testados, logo, é nessas alturas que não devemos desistir. CR7, apesar de já ter sido o melhor do mundo uma primeira vez antes, não conseguiu o prémio no ano passado. Não desistiu, por maior que tenha sido a frustração que sentiu. Resultado: conseguiu e voltou a ganhar este ano.

Penso, muitas vezes, e ouço opiniões parecidas com a minha, que é uma pena que Portugal se destaque por pouco mais do que o futebol. Esta de facto não é uma área que me interesse especialmente, nem é a área que mais convém ao interesse dos país lá fora. Diplomatica, política e economicamente, este fenómeno nada afecta. Mas temos de ter em atenção vários aspectos que advém desta tendência.

Em primeiro lugar, o facto de termos um português como símbolo internacional de sucesso faz-nos, ainda que por vezes inconscientemente, ter um certo orgulho nacional e deixarmos de ter uma visão tão péssimista do nosso próprio povo. Essa visão vai sendo substituída por “afinal se calhar até somos capazes”. Por outro lado, como disse, o futebol não era, quanto a mim, o sector mais desejável de sucesso, mas fico contente que haja pelo menos algo em que somos realmente bons e que sejamos devidamente representados e respeitados, já que os nossos representantes políticos, apesar dos elevados estudos (?), não raramente nos deixam mal vistos.

Por último, há que ter em conta que Portugal tem outros sectores de actividade em que se destaca, seja na música (na voz de Mariza), seja na indústria do calçado, vinhos e, ainda mais, na beleza geográfica. As maiores cidades, Lisboa e Porto, são destinos turísticos bastante procurados pelos restantes europeus e, até, pessoas oriundas de outros continentes. Mas, mais importante do que isso, os próprios portugueses têm cada vez mais orgulho na sua terra e exploram territórios nacionais onde nunca foram antes de pensarem apenas nas viagens ao estrangeiro.

Gostava agora de fazer referência a discussões e debates que ultimamente aparecem e que, na minha óptica, não têm razão nenhuma de existir. O último exemplo foi, na ocasião da entrega da Bola de Ouro, o debate que ocorre a seguir, num dos canais portugueses, que se resume a uma critica conjunta e estruturada por parte dos comentadores do facto de o treinador Carlos Queiroz não ter votado em Cristiano Ronaldo para ser o melhor jogador do mundo. Em relação a esta situação caricata, tenho algumas perguntas a fazer. A primeira é: como é que sabem em quem o dito treinador votou? Supostamente, o voto seria secreto. Só se também há escutas e câmaras de vigilância para controlo destes votos. Uma outra conclusão, talvez mais credível, é que Carlos Queiroz terá revelado o voto a outra pessoa e, desde aí, a notícia ter-se-á espalhado. Esta lógica leva-me à segunda questão: onde é que está realmente a Democracia, aquela palavra tão bonita e apetecível de que tanto se ouve falar hoje em dia? Ninguém é obrigado a votar em ninguém apenas e só porque o eleitor era português e uma das opções de voto era portuguesa. A FIFA é uma associação internacional, em que é esperada uma análise o mais isenta possível de cada jogador, em vez de se basear uma decisão na nacionalidade desse jogador. Mais importante ainda, cada pessoa tem direito à sua opinião, senão a Democracia deixa de ter os valores que tiveram na sua génese, passando a ter características opressoras e tornar-se numa ditadura da opinião (das massas). A opinião de cada um deve ser respeitada e os outros não têm forçosamente de concordar com ela.

Há tendências novas que devem ser agarradas e depois há aquelas de devem ser paradas e repensadas, antes que seja tarde demais.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

As greves do costume

E amanhã temos mais uma greve do Metro de Lisboa. Sei que tem havido greves de vários transportes durante meses quase que consecutivos. Sei também que este é um direito que assiste a todos os trabalhadores, mas considero um abuso e uma falta de respeito para com o consumidor o que tem sucedido nos últimos tempos. Devo dizer, igualmente, que o meu estado de indignação me levou a escrever um e-mail aos recursos humanos do Metropolitano de Lisboa a expor a situação, ao qual nunca ninguém me respondeu. Ou se calhar talvez sim - ao continuarem com estas greves semanais.
A situação actual é difícil para todos os portugueses e as greves, além de não atingirem os objectivos para os quais existem, apenas prejudicam e dificultam o dia-a-dia dos cidadãos. que não se esqueçam que este transporte é um serviço público, o que, por definição, implicaria que fosse gratuito. Mas não é. E, além de o não ser, os preços aumentam a cada ano. E, ao contrário do que seria lógico, a subida de preço é inversamente proporcional à qualidade do serviço.
Podem também dizer que a greve é um protesto em nome de toda a população. Mas não é. É apenas uma forma prejudicial de fazerem uma birra que não leva a lado nenhum e os patrões ficam contentes, pois é menos um dia que têm de pagar aos funcionários.
Se o objectivo é causar transtorno, de facto é um pouco aborrecido, mas já todos nós arranjámos soluções alternativas de estarmos onde temos de estar todos os dias.
Para cúmulo, ainda querem fazer a seguinte celebração: "Há 54 anos a levá-lo ao seu destino". Agora pergunto eu: descontanto todos os dias de greve, quantos anos se teriam de subtrair?
 
Deixo-vos o seguinte artigo presente na edição impressa do jornal Público de ontem, dia 07 de Janeiro de 2014:

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Declaro aberto o blogue...de ambos os lados.

Esta página destina-se a a todos aqueles que queiram dar a sua opinião relativamente a qualquer assunto. Contanto que, obviamente, os comentários estejam circunscritos nos artigos que aqui vão sendo publicados. Tanto pode servir de diário, como de página expiatória de pensamentos, sensações e análises. Estas composições escritas podem muito bem ser relativas à actualidade, como a outros tempos que já passaram e até a possíveis projecções do futuro.
Devo avisar, por outro lado, que me recuso a escrever ao abrigo do novo acordo ortográfico, pelo menos até que não seja expressamente proibido não o fazer.
As línguas usadas neste blogue serão o português e o inglês, os idiomas de que mais gosto e foram apresentados por ordem de intensidade.
A última parte desta breve apresentação, mas talvez a mais significativa, prende-se com o título. Ab utroque latere é a expressão latina para "de ambos os lados". A minha escolha pela versão em latim não está associada a ser chique ou muito culta, mas ao facto de, para mim, o latim ser a língua mais franca e exacta, em que há uma honestidade e honra em todas as palavras. Faz sentido, já que foi em tempos idos que estes valores tinham de facto mais importância e eram respeitados. A outra razão do título é a expressão em si - tenho o objectivo de ser racional e imparcial nas minhas reflexões. Para entender uma questão a fundo, é necessário conhecer ambos os lados e equacioná-los. É com base nesta minha máxima que tento olhar para todas as questões com que me deparo. Tenho, por isso, a noção de que nem sempre é fácil e o nível de facilidade vai diminuindo quanto mais próximos nos for o assunto.