sexta-feira, 1 de maio de 2020

Balanço da quarentena




Concluí a sétima semana em teletrabalho/quarentena, pelo está na altura de fazer o balanço desta experiência que é, para mim, totalmente nova.

Por um lado, posso dizer que prefiro trabalhar no escritório porque na maioria dos dias sinto que sou mais produtiva e, claro, porque me faz falta a companhia dos meus colegas, as pausas, os momentos cómicos que partilhamos. Felizmente, tenho a sorte de estar rodeada de pessoas fantásticas. Mas, ao mesmo tempo, é bom saber que agora temos essa possibilidade quando for necessário ou mais conveniente. 

Pondo esse aspecto de parte, queria realçar os muitos pontos positivos que tenho tido a oportunidade de testemunhar. Embora esta situação de confinamento esteja longe de ser ideal, tem constituído até agora uma fonte de boas ações, revelações, criatividade, adaptação e solidariedade.

Já vimos diretos de vários artistas e organizações que, através das suas páginas das redes sociais, nos deram a possibilidade de ver concertos, bailados, espetáculos, peças de teatro e filmes. Vimos inclusivamente grupos de artistas nacionais e internacionais que se juntaram para concertos de angariação de fundos para o combate à Covid-19. 

Há várias personalidades e instituições que disponibilizam formações online e aulas de grupo, muitas delas gratuitas, que nos permitem aproveitar com qualidade o tempo que agora temos "a mais". Temos acesso a toda uma panóplia de serviços que nos permitirão ultrapassar e sair deste período mais fortes, com novas competências e, até, mais tonificados, se assim o desejarmos.

Temos visto a capacidade de adaptação e resiliência dos pequenos e médios negócios ao alterarem as suas funções de modo a irem ao encontro das novas necessidades dos seus clientes. Seja através do take-way por parte dos restaurantes ou mesmo da alteração completa da atividade, enquanto não podem reabrir os seus espaços físicos. As empresas viram-se obrigadas a aderir e potenciar os seus espaços digitais. 

Todos nós demos um grande passo na utilização e domínio das tecnologias digitais. Aliás, sem elas, este período seria infinitamente mais difícil seja pela forma como iríamos ocupar o tempo, seja pelo facto de esta ser, para muitos, a única possibilidade de ver as pessoas que lhes são queridas, nomeadamente família e amigos. Até já os avós aprenderam a fazer vídeo-chamadas! Nas grandes adversidades, criam-se grandes oportunidades que, em condições normais, tardariam ou nunca chegariam.

Ainda no que toca à solidariedade e espírito de união entre todos, várias marcas de renome começaram a produzir desinfetantes e material de proteção para os profissionais de saúde. Várias pessoas também se organizaram nas suas comunidades e áreas de residência e disponibilizaram-se para entregar encomendas e bens essenciais a pessoas idosas, que devem evitar a todo o custo sair de casa. Devido à situação precária em que muitas famílias se encontram porque um ou mais membros não podem trabalhar, formaram-se as denominadas Caixas Solidárias, em que qualquer pessoa pode deixar o que poder e qualquer pessoa que precise pode levar.

A um nível mais micro, é um prazer ver os vários talentos que agora as pessoas estão a revelar nas suas redes sociais. Pessoas que não sabia serem capazes de cantar, dançar, desenhar ou tocar instrumentos musicais. Ao nos afastarmos fisicamente, tornámo-nos mais próximos. Acabámos por nos conhecer melhor uns aos outros, entrámos nas casas uns dos outros.

É realmente incrível o que o ser humano consegue fazer em alturas difíceis. Se, por um lado, somos um perigo para o Planeta, por outro, também podemos ser a sua salvação. É uma questão de escolhermos aplicar a nossa criatividade e engenhosidade para a cooperação, para um Mundo melhor. E não nos esquecermos das lições que aprendemos nesta fase. Porque a verdade é que daqui a uns anos, não nos esquecemos de que isto aconteceu, mas teremos a tendência para relaxar, para voltar a como estávamos antes desta crise. Há coisas que devemos aproveitar e não deixar regredir.

domingo, 15 de março de 2020

Uma Luz num Túnel (In)findável

Olá a todos,

Sei que já passaram alguns anos desde a minha última publicação neste blogue, mas a situação em que vivemos fez com que me inspirasse a escrever e partilhar convosco o que de positivo se pode tirar de tudo isto.

Desde que este micróbio Covid-19 foi declarado uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde, originou-se um frenesim nas pessoas um pouco por todo o mundo. A realidade portuguesa não foi diferente, como se pode verificar pelas prateleiras vazias da maioria dos supermercados quase desde a hora de abertura.

Este frenesim é justificado - estamos perante uma situação realmente séria. O nível de contágio é, no mínimo, alarmante e creio que o que nos faz ficar mais receosos é o facto de nem as autoridades mundiais ao nível da saúde terem respostas conclusivas sobre como combater a infeção. Dizem que depende das pessoas (sistema imunitário de cada um, idade, problemas respiratórios), que devemos lavar as mão várias vezes ao dia, evitar contacto físico e, mais recentemente, tentar ao máximo não sair de casa. E é neste último ponto que gostaria de me focar.

De quinta-feira passada para sexta (ou seja, de 12 para 13 de Março de 2020), houve uma declaração de emergência e um apelo para que as pessoas evitassem a todo o custo ajuntamentos e que ficassem em casa. No seguimento disto, o que aconteceu no Sábado à noite? Não apeteceu ficar em casa e lá foi a juventude (e não só) encher as ruas do Cais do Sodré.

O objetivo deste post não é chamar a atenção para as consequências negativas destas atitudes. É, sim, chamar a atenção para as partes positivas que podem advir desta situação. As pessoas foram para o Cais do Sodré, não necessariamente porque sejam egoístas e/ou não estejam a pensar no bem maior da comunidade, mas porque ficar em casa pode ser aterrador, hoje em dia. Já não sabemos o que é isso. Numa época em que temos revistas digitais, estações de rádio e de televisão, anúncios sugeridos nos sites que visitamos que nos estão sempre a apelar para uma escapadinha com desconto para aqui, ir ao brunch espetacular que abriu agora ali, experimentar o fantástico rooftop inaugurado na semana passada a seguir ao trabalho, pressão social subreptícia para ter planos com amigos a toda a hora (sob pena de ser rotulado antisocial)...que nos desabituámos a estar em casa por um período maior do que talvez duas horas por dia no serão (quando estão terminadas as tarefas domésticas) e mais sete horas (na melhor das hipóteses) em que nem damos por isso, porque estamos a dormir.

Então e agora? O que fazemos a todo este tempo em casa?
Aproveitemos para parar um pouco, levantar a cabeça e respirar. Uma das resposta que ouvimos mais frequentemente a uma proposta ou sugestão é: "não tenho tempo"; "ando sempre a correr"; "queria ter um dia que fosse para descansar". As preces foram ouvidas...por isso, parem, relaxem, descansem.

Aproveitemos para nos reencontrarmos, tanto connosco mesmos como com aqueles com quem partilhamos o nosso espaço. Temos agora a oportunidade de passar tempo de qualidade (embora sem muito contacto físico) com as pessoas que são mais importantes para nós. Já podemos fazer as refeições juntos, passar tempo de qualidade em família, porque agora não há reuniões a horas tardias ou o tempo perdido nos transportes ou no trânsito.

Agora há tempo para tudo: trabalhar (para os que o podem fazer a partir de casa), pôr as séries em dia, fazer exercício (há muitos treinos que não exigem equipamento e que se podem fazer em casa e que ajuda bastante a nível psicológico).

Aproveitemos para refletir, para conversar, para ler um livro, dando asas à imaginação. Esta é a forma mais segura de irmos onde quisermos sem, na realidade, sairmos de onde estamos.

E, se sobrar tempo livre, por que não usá-lo para aprender algo novo. Experimentar uma receita de um amigo (em vez de ir comer fora), aprender uma língua estrangeira, melhorar algo em casa de modo a ficar mais funcional.

Se olharmos para a situação desta perspectiva, não só não seremos afetados como sairemos ainda mais fortes (física, emocional e intelectualmente)!

Cumpram as regras, protejam-se, fiquem bem!