O antigo e o novo Museu dos Coches |
Espero que todos tenham tido a excelente oportunidade de visitar aquele que, até final de Maio deste ano, foi o Museu dos Coches. Um antigo picadeiro real que, pela mão da Rainha D. Amélia, foi transformado em museu e aberto ao público.
Este é um edifício clássico, com uma fachada esteticamente elegante, que dava vontade de entrar e ver se o seu interior era tão ou mais impressionante do que o exterior. Era resplandecente, tendo em conta o seu uso inicial, pois todos os detalhes eram importantes e feitos com apreço, num tempo em que uma simples moldura era por si só uma obra de arte. Quando lá fui, apesar de tudo isso, considerei realmente que o espaço era reduzido para a quantidade de peças que faziam parte do espólio em exposição. Seria impensável retirar algum dos exemplares, pois todos eles são património que conta a nossa História e tornaram fisicamente possíveis alianças entre Portugal e outros países. Numa parte do museu, havia vários exemplares que tinham de estar muito próximos devido à falta de espaço, resultando numa dificuldade de o público poder analisar estes coches com mais detalhe e apenas podendo ler a placa identificativa correspondente.
No andar de cima, desfilávamos ao longo do corredor cujo parapeito era todo decorado e trabalhado e as paredes ornamentadas com quadros de figuras reais, que personificam a História transportada pelos coches que podem ver agora em perspectiva. Corredor este em que, muitos anos antes, pessoas ilustres assistiam a práticas equestres. Este é o ambiente em que os coches se enquadram na perfeição, em que sentimos, consciente ou inconscientemente, que tudo faz sentido pela aura história que encerra.
Assim sendo e atendendo aos aspectos negativos deste museu já referidos, não pareciam razão suficiente para o investimento de 40 milhões de euros na construção de um novo espaço para os coches, sobretudo devido à situação financeira do País, e ainda para mais a passagem um edifício cuja arquitectura moderna e norte-europeia não combina com a temática do museu.
Decidi, por isso, ir ver este novo Museu dos Coches, situado apenas a alguns metros de distância do antigo. Deparei-me então com uma dificuldade: encontrar a entrada. Todos os lados do edifício são francamente parecidos e têm portas. Resolvi, assim, tentar o lado para onde havia maior número de pessoas a dirigir-se. O novo museu é constituído por dois edifícios ligados por uma ponte. O primeiro é o museu propriamente dito e outro é um auditório. Mas foi quando cheguei à bilheteira que me apercebi de que o antigo museu ainda está aberto e pode ser incluído na visita do novo, se assim desejar.
O passo seguinte foi entrar num elevador grande (que faz lembrar os que são usados para cargas e descargas) e esperar que viessem mais pessoas para justificar o gasto de energia associado à subida. Perguntei ao encarregado se havia escadas, ao que me respondeu afirmativamente. No entanto, afastei solidariamente essa ideia pois, ao sair, iria impor um maior tempo de espera aos outros visitantes.
A exposição encontra-se no primeiro andar e, assim que entrei, senti um vazio. Além de o espaço ser agora demasiado grande, a sensação que transmite é apenas a de uma arrecadação que contém uma série de objectos de valor catalogados, que podem vir um dia a ser necessários para uma qualquer eventualidade. Mais especificamente, lembra um armazém de uma fábrica, com as suas paredes brancas e nuas, com um tecto constituído de luzes e barras de ferro quadriculadas. Uma visão destas impede a psicológica viagem no tempo que se fazia ao entrar no museu antigo. Porque os coches faziam parte de um tempo em que a arquitectura representava uma arte e uma dedicação inigualáveis, onde se via o orgulho no País que representava. Seria o equivalente a pôr uma família do século XVIII a viver num apartamento do Parque das Nações.
Devo, no entanto, dizer que o espaço foi bem aproveitado e que cabem todos os coches neste primeiro andar de forma desimpedida, tal que é possível ao público analisar todos os exemplares com detalhe. Digo mais ainda: os coches estão bem organizados tematicamente e separados por faixas. No início de cada faixa, encontra-se uma placa explicativa do tema a que cada conjunto pertence. Tem desde caleches eclesiásticas, a coches reais, modificações ao longo do tempo e a secção das crianças.
O museu tem ainda um segundo andar, acessível através de escadas, as quais parecem inacabadas. Todo o edifício é branco e isso, por si só, já é motivo para se ter essa noção, mas nesta parte em específico, a pintura não foi aplicada por igual. Uma vez lá em cima, deparamo-nos com mais paredes brancas e nuas. Faltam os ditos quadros que estavam no museu antigo e foi aí que percebi o porquê de esse estar ainda aberto. Existe o novo mas não nos conseguimos desligar do antigo. Não entendi a necessidade deste segundo piso porque não se conseguem ver bem os coches. O parapeito parece estar feito para estrangeiros com mais de um metro e oitenta e, portanto, não oferece a possibilidade de ver a exposição em perspectiva. Chegou, assim, ao fim da visita. Saí e tive a necessidade de olhar para o antigo picadeiro real. O que será que pretendem fazer dele? Continua apenas a servir para ostentar quadros reais ou será usado para outra finalidade? Talvez um dia tenha a resposta.